Com cessar-fogo em vigor. Israel proíbe libaneses de viajar para dez cidades do sul
Pouco mais de 24 horas depois de entrar em vigor o cessar-fogo, o exército israelita indicou dez localidades do sul do Líbano que marcam a zona para onde os libaneses estão proibidos de viajar, em novo aviso após o acordo de trégua de 60 dias com o Hezbollah. O exército libanês apelou também à população deslocada para que não se aproximasse das regiões onde ainda estão militares do Estado hebraico.
O chefe do Estado-Maior israelita, Herzi Halevi, disse ainda na quarta-feira que a aplicação do cessar-fogo por Israel seria muito determinada.
"Os militantes do Hezbollah que se aproximarem das nossas tropas, da região de fronteira e das vilas dentro dessa zona que marcamos serão atacados. Estamos a preparar-nos para a possibilidade de que essa abordagem [de cessar-fogo] não tenha sucesso", acrescentou.
Já esta quinta-feira, em mensagem na rede social X, acompanhada de um mapa, o porta-voz do exército israelita alertou, em árabe, para a proibição "até nova ordem" e avisou que "qualquer pessoa que se desloque para sul desta linha expõe-se ao perigo".
"É proibido deslocar-se para sul da linha de demarcação nas seguintes localidades e nas imediações, bem como no interior das próprias localidades: Shebaa, Al-Habbariyeh, Marjayoun, Arnoun, Yahmar, Al-Qantara, Shaqra, Bara`shit, Yater, Al-Mansouri", declarou Avichay Adraee.
Adraee acrescentou que as IDF "não pretendem atacar” a população libanesa, mas alertou que, neste momento, não podiam regressar a casa até novo aviso.
#عاجل 🔴بيان عاجل إلى سكان لبنان
— افيخاي ادرعي (@AvichayAdraee) November 28, 2024
⭕️حتى إشعار آخر يحظر عليكم الانتقال جنوبًا إلى خط القرى التالية ومحيطها وأيضا داخل القرى نفسها: شبعا، الهبارية، مرجعيون، أرنون، يحمر، القنطرة، شقرا، برعشيت، ياطر، المنصوري
⭕️جيش الدفاع لا ينوي استهدافكم ولذلك يحظر عليكم في هذه المرحلة العودة إلى… pic.twitter.com/Ykcp0EoB2u
O exército libanês, por sua vez, afirmou estar a tomar as medidas necessárias para concluir a mobilização no sul, pedindo aos cidadãos “que tenham paciência antes de regressar às vilas e cidades nas linhas de frente”. As autoridades do Líbano pediram também a quem regressa que “tenha cautela e esteja atento a munições não detonadas e objetos suspeitos deixados para trás pelo inimigo israelita”.
Desde as primeiras horas da entrada em vigor do cessar-fogo, na quarta-feira, as estradas que conduzem ao sul e ao leste do país encheram-se de famílias que regressavam às regiões mais afetadas, com 1,2 milhões de pessoas deslocadas pelo conflito. O aviso vem na sequência de um apelo lançado pelo exército libanês, na quarta-feira, que pediu aos cidadãos do país para esperarem para regressar a casa.
O cessar-fogo de 60 dias entre Israel e o Hezbollah no Líbano, que começou na quarta-feira, vai ter três fases: uma trégua inicial, seguida da retirada das forças do grupo xiita Hezbollah a norte do rio Litani; a retirada total das tropas israelitas do sul do Líbano no prazo de 60 dias e, por último, negociações entre os dois países para delimitar a fronteira, que corresponde atualmente a uma linha traçada pela ONU após a guerra de 2006.
Desde o início das hostilidades entre Israel e o Hezbollah, no início de outubro de 2023, um dia após o início da guerra na Faixa de Gaza na sequência do ataque do Hamas a Israel, mais de 3.800 pessoas morreram e mais de 15.800 ficaram feridas em ataques israelitas no Líbano.
O grupo xiita libanês afirmou, em comunicado citado pelo Guardian, que os combatentes do Hezbollah “permanecem totalmente equipados para lidar com as aspirações e ataques do inimigo israelita” e que vão controlar a retirada de Israel do Líbano “com as mãos no gatilho”.
A declaração surge numa altura em que milhares de pessoas deslocadas do sul do Líbano começaram a regressar a casa, apesar dos avisos do exército israelita para esperarem.
Também o comandante da Guarda Revolucionária do Irão, o general Hossein Salami, disse esta quinta-feira que o cessar-fogo de 60 dias entre os israelitas e o Hezbollah no Líbano é uma "derrota" para Israel.
"O cessar-fogo na frente libanesa é uma derrota estratégica e humilhante para o regime sionista, que nem sequer chegou perto de alcançar qualquer um dos objetivos e ambições malignas na guerra contra o Hezbollah”, disse Salami numa mensagem dirigida ao secretário-geral do Hezbollah, Naim Qasem.
Salami classificou o cessar-fogo, que entrou em vigor na quarta-feira, como "grande vitória" e um "grande avanço na história da luta contra os sionistas".
O cessar-fogo "pode ser o princípio do fim da guerra em Gaza", acrescentou.
O Irão lidera o chamado Eixo da Resistência, que inclui o Hezbollah, o Hamas e os houthis do Iémen, além das milícias no Iraque e na Síria.