Com cessar-fogo em vigor. Israel proíbe libaneses de viajar para dez cidades do sul

por Inês Moreira Santos - RTP
Maher Abou Taleb - Reuters

Pouco mais de 24 horas depois de entrar em vigor o cessar-fogo, o exército israelita indicou dez localidades do sul do Líbano que marcam a zona para onde os libaneses estão proibidos de viajar, em novo aviso após o acordo de trégua de 60 dias com o Hezbollah. O exército libanês apelou também à população deslocada para que não se aproximasse das regiões onde ainda estão militares do Estado hebraico.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, instruiu os militares a não permitir que os habitantes voltassem para as aldeias perto da fronteira, depois que quatro militantes do Hezbollah terem sido detidos nesta zona, nas últimas horas. Num comunicado das Forças de Defesa de Israel, as autoridades alegam que militantes do movimento xiita libanês terão abordado os militares israelitas no terreno.

O chefe do Estado-Maior israelita, Herzi Halevi, disse ainda na quarta-feira que a aplicação do cessar-fogo por Israel seria muito determinada.

"Os militantes do Hezbollah que se aproximarem das nossas tropas, da região de fronteira e das vilas dentro dessa zona que marcamos serão atacados. Estamos a preparar-nos para a possibilidade de que essa abordagem [de cessar-fogo] não tenha sucesso", acrescentou.

Já esta quinta-feira, em mensagem na rede social X, acompanhada de um mapa, o porta-voz do exército israelita alertou, em árabe, para a proibição "até nova ordem" e avisou que "qualquer pessoa que se desloque para sul desta linha expõe-se ao perigo".

"É proibido deslocar-se para sul da linha de demarcação nas seguintes localidades e nas imediações, bem como no interior das próprias localidades: Shebaa, Al-Habbariyeh, Marjayoun, Arnoun, Yahmar, Al-Qantara, Shaqra, Bara`shit, Yater, Al-Mansouri"
, declarou Avichay Adraee.

Adraee acrescentou que as IDF "não pretendem atacar” a população libanesa, mas alertou que, neste momento, não podiam regressar a casa até novo aviso.



O exército libanês, por sua vez, afirmou estar a tomar as medidas necessárias para concluir a mobilização no sul, pedindo aos cidadãos “que tenham paciência antes de regressar às vilas e cidades nas linhas de frente”. As autoridades do Líbano pediram também a quem regressa que “tenha cautela e esteja atento a munições não detonadas e objetos suspeitos deixados para trás pelo inimigo israelita”.

Desde as primeiras horas da entrada em vigor do cessar-fogo, na quarta-feira, as estradas que conduzem ao sul e ao leste do país encheram-se de famílias que regressavam às regiões mais afetadas, com 1,2 milhões de pessoas deslocadas pelo conflito. O aviso vem na sequência de um apelo lançado pelo exército libanês, na quarta-feira, que pediu aos cidadãos do país para esperarem para regressar a casa.

O cessar-fogo de 60 dias entre Israel e o Hezbollah no Líbano, que começou na quarta-feira, vai ter três fases: uma trégua inicial, seguida da retirada das forças do grupo xiita Hezbollah a norte do rio Litani; a retirada total das tropas israelitas do sul do Líbano no prazo de 60 dias e, por último, negociações entre os dois países para delimitar a fronteira, que corresponde atualmente a uma linha traçada pela ONU após a guerra de 2006.

Desde o início das hostilidades entre Israel e o Hezbollah, no início de outubro de 2023, um dia após o início da guerra na Faixa de Gaza na sequência do ataque do Hamas a Israel, mais de 3.800 pessoas morreram e mais de 15.800 ficaram feridas em ataques israelitas no Líbano.

A grande maioria das mortes, cerca de 3.100, ocorreu desde o início da campanha de bombardeamento maciço de Israel, em 23 de setembro, que afetou principalmente as comunidades do sul e do leste do Líbano, bem como os subúrbios do sul de Beirute, conhecidos como Dahye.
Cessar-fogo visto como "derrota" para Israel

Nas primeiras declarações desde que o cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah entrou em vigor, a milícia libanesa proclamou “vitória” sem fazer qualquer menção direta ao cessar-fogo.

O grupo xiita libanês afirmou, em comunicado citado pelo Guardian, que os combatentes do Hezbollah “permanecem totalmente equipados para lidar com as aspirações e ataques do inimigo israelita” e que vão controlar a retirada de Israel do Líbano “com as mãos no gatilho”.

A declaração surge numa altura em que milhares de pessoas deslocadas do sul do Líbano começaram a regressar a casa, apesar dos avisos do exército israelita para esperarem.

Também o comandante da Guarda Revolucionária do Irão, o general Hossein Salami, disse esta quinta-feira que o cessar-fogo de 60 dias entre os israelitas e o Hezbollah no Líbano é uma "derrota" para Israel.

"O cessar-fogo na frente libanesa é uma derrota estratégica e humilhante para o regime sionista, que nem sequer chegou perto de alcançar qualquer um dos objetivos e ambições malignas na guerra contra o Hezbollah”
, disse Salami numa mensagem dirigida ao secretário-geral do Hezbollah, Naim Qasem.

Salami classificou o cessar-fogo, que entrou em vigor na quarta-feira, como "grande vitória" e um "grande avanço na história da luta contra os sionistas".

O cessar-fogo "pode ser o princípio do fim da guerra em Gaza"
, acrescentou.

O ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Abbas Araqchi, disse na quarta-feira que o Irão foi consultado por "diferentes partes" sobre a trégua no Líbano e que tentou ser "útil" ao Hezbollah e ao Governo libanês para conseguir uma cessação das hostilidades que vai ser seguida de um cessar-fogo "permanente".

O Irão lidera o chamado Eixo da Resistência, que inclui o Hezbollah, o Hamas e os houthis do Iémen, além das milícias no Iraque e na Síria.
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